terça-feira, 18 de outubro de 2016

Porque o Estado brasileiro oprime //

Aqui vou me ater puramente em estudos empíricos com os quais eu vou pulverizar a falácia de que o Estado- em especial o brasileiro- tem promovido alguma justiça social.

Então, porque esse maniqueísmo capitalismo X Estado no Brasil não funciona? Primeiramente por conta do sistema previdenciário, que assume a maior fatia dos gastos públicos (são 436 bilhões de 699,1). Segundo análise da IPEA (Institudo de Pesquisa em Economia Aplicada) servidores públicos correspondem a apenas 5% do beneficiários do INSS e recebem 20% dos recursos totais da previdência. Parece estatística do Occupy, só que dessa vez o vilão é o Estado. O Estado puxa a sardinha pra sim mesmo pra dar manutenção a... si mesmo! Os trabalhadores do setor privado tem que cumprir uma carga horária maior pra suplantar o que o Estado, enfim, assegura como direito a aqueles que trabalham em favor dos interesses dele mesmo.
Segundo aspecto, nem é preciso dizer nada sobre o mecanismo de concentração de renda chamado BNDS que fizeram transferências do tesouro nacional –na casa do trilhão! (isso mesmo que você leu!) para favorecer grandes empresas estratégicas. Em outras palavras, o Estado elegeu os grupos empresariais que deveriam continuar simplesmente enriquecendo.
Terceiro ponto, o que eu acho mais absurdo de todos, são os impostos no Brasil. Pra se ter uma ideia, o estado brasileiro cobra 25% de impostos sobre bens de renda e patrimônio, como casa e carro, e 50% sobre bens de consumo, como uma margarina, medicamentos etc. O padrão dos países desenvolvidos é precisamente o oposto: são cobrados 50% sobre bens maiores e 25% sobre essencialidades (comida, etc.). Nos EUA, por exemplo, são taxados 15% sobre bens de necessidade básica, e 60% sobre patrimônio. Quer dizer, segundo a lógica do Estado brasileiro, o cara bilionário vai pagar o mesmo que um morador de rua quando for ao supermercado pra comprar o essencial como um rolinho de pão, enquanto o mesmo rico vai pagar quase nada pra viver na mansão do Alphaville em que vive, o paupérrimo sabe-se lá se vai ter ao menos onde dormir. E pra não dizer que eu só coletei informações de site liberais, o banco de dados do próprio MTST aponta que cerca de 48% da população brasileira não tem residência adequada.lógica da carga tributária pelo Estado brasileiro não é apenas absurdamente invertida, ela é perversa, beneficiando os mais ricos!
O único aspecto em que o nosso Estado consegue atacar a desigualdade é por meio dos programas sociais, que são muito bem-vindos. Porém o efeito é tímido, pois só pra equilibrar as distorções causadas pela previdência (benefícios de funcionários públicos citadas no primeiro ponto) seria necessário aumentar DEZ vezes as contribuições do Bolsa Família.

Com base apenas nesses três aspectos é possível afirmar empiricamente, e aqui me faço valer de fatos e não de opiniões, de que 1/3 de toda desigualdade no Brasil tem como responsável a máquina pública. E isso eu só falei em termos técnico-estruturais, eu nem contei a corrupção que claramente existe a torto e a direito no nosso país. O nosso Estado é tão falho, que até Marx deve estar se revirando dentro do caixão de como suas idéias foram pervertidas. Se fosse pra haver uma reforma em que o Brasil de fato se tornasse uma Noruega, Suécia da vida, eu seria aqui a primeira a torcer pra que desse certo. Mas até lá nó temos um longo caminho enxugando a máquina pública e conseqüentemente tornando-a mais eficiente por meio da privatização.
 
Fonte: Afonso & Salto (2016). Revista Conjuntura Econômica

 
 


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