quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Página 26

''Na realidade, só existe um modo de nos valorizarmos: é pelo trabalho, pela obra que fomos capazes de fazer. É preciso que saibamos aceitar esta condição sem complexos e sem vergonhas: somos pobres. Ou melhor, somos empobrecidos pela História. Mas nós fizemos parte dessa História, fomos também empobrecidos por nós próprios. A razão dos nossos actuais e futuros fracassos mora também dentro de nós.
Mas a força para a superarmos a nossa condição histórica também reside dentro de nós. Saberemos, como já soubemos antes, reconquistar a certeza de que somos produtores do nosso destino. Teremos mais e mais orgulho em sermos quem somos: moçambicanos construtores de um tempo e de um lugar onde nascemos todos os dias.
É por isso que vale a pena aceitarmos descalçar não só os sete, mas todos os sapatos que atrasam a nossa marcha coletiva. Porque a verdade e uma: antes vale andar descalço do que tropeçar com o sapato dos outros.''

Página 26
Trecho do primeiro ensaio do livro ''E se Obama fosse africano'' por Mia Couto

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