segunda-feira, 17 de abril de 2017

6 passos para o Brasil voltar a crescer



sábado, 8 de abril de 2017

Misseis e Síria

Um texto, não-pragmático que, oportunamente, só vai te deixar mais reticente:

Após 6 anos sem ataques diretos, os EUA quebraram seu jejum, autorizando um ataque de 59 mísseis contra uma base aérea Síria.

Razões? As palavras do próprio presidente Trump, bem como do secretário de Estado Rex Tillerson, bem como do enviado das Nações Unidas Nikki Haley foram categóricas: não há dúvidas de que Basshar Al Assad foi responsável pelo atentado com armas químicas na cidade rebelde ao Norte da Síria, Khan Sheikhoun, o qual matou no mínimo 80 pessoas nessa semana.

Nem é preciso dizer que a represália Norte- americana através do lançamento de mísseis só foi gerada mais destruição. Afinal, pra onde caminha a humanidade a qual vale-se de mais violência para deter a violência? Não creio que ninguém no pleno exercício da sua humanidade concorde com isso - talvez os defensores da pena de morte, o que não é meu caso. Mas esse é um outro debate, pra uma outra ocasião. O fato é que a legislação internacional prevê intervenções para certas situações: caso Bashar Al Assad tenha de fato usado armas químicas, ele teria quebrado as diretrizes do Chemical Weapons Convention e do UN Security Council do acordo de não-uso de armas químicas e a represália estadunidense, nesse caso, poderia ser perpetrada. (1)

Em face disso, vale o SÉRIO questionamento: Bashar Al Assad usou mesmo o gás sarin? Será que Donald Trump, o Secretário de Estado e o enviado das Nações Unidas estão irredutivelmente corretos?

Até então, não há plena concordância e o simples ‘’talvez’’ nessa história toda é de arrepiar: seria desabonador saber que um novo imbróglio internacional estaria a caminho devido a um míssil equivocadamente lançado por parte dos EUA. Até porque os EUA são renomadamente peritos em meter o pé na jaca quando se trata em intervenções no oriente a exemplo dos efeitos escabrosos de suas intervenções no Oriente médio. As tentativas passadas de "estabilizar o Oriente Médio" provaram ser desastrosas tanto no Iraque como no Afeganistão, aumentando apenas o tumulto e, finalmente, dando à luz o ISIS. Essas intervenções conduziriam a mais caos, sangue, guerra e, claro, aos refugiados que inundaram a Europa nos últimos anos. (4)

Para fins de entendimento, comparemos o caso atual a outro de amplitudes muito similares: o atentado em 2013 a Ghouta (um subúrbio de Damasco) com armas químicas.
 Estaria a história apenas se repetindo?
         Em 2013, houve em Ghouta, subúrbio de Damasco um ataque com gás sarim cuja autoria foi atribuída, num primeiro momento, ao governo Sírio. Porém o jornalista investigativo Seymour Hersh obteve documentos da DIA- Defense Intelligente Agency- a organização espiã do Pentágono- os quais sugeriam que Nusra Front –um ramo da Al Qaeda na Síria- fosse o verdadeiro responsável pelo ataque ataque. (2)
         De acordo com a investigação de Hersh, os ataques haviam sido liderados pelos rebeldes hijadistas: eles queriam que Washington presumisse que Assad havia cruzado a ‘’red line’’traçada por Obama durante a sua gestão, incitando os EUA a entrar em guerra, o que fragilizaria o governo central sírio.
Na época, Obama foi convencido a não enviar mísseis pelos conselhos de James Clapper, diretor da Inteligência Nacional desse tempo. James fundamentara seu conselho nos que aprendeu de um livro publicado pelo expert em Oriente Médio chamado Michael Luders. 
Adiante foi confirmado: o exército sírio de fato não perpetrara o gás. As pesquisas que foram conduzidas por um laboratório militar britânico verificaram que o gás usado pelo exército sírio tinha uma composição diferente do que havia sido usado nos ataques. Bingo: quão catastrófica teria sido o envio equivocado de um míssil pelos EUA? Felizmente tiveram a prudência de investigar de perto a situação antes de consumar o ataque.
Por outro lado, a resposta do atual governo norte-americano destoou muito quanto ao evento trágico dessa semana, uma vez que o míssil fora enviado antes de aprofundarem as investigações
Para piorar, alguns Experts já sugerem que os responsáveis pelo ataque com armas químicas podem ter sido rebeldes hijadi e não Assad, tal qual o episódio de Ghouta.
Segundo o diretor do Centro de Pesquisa para o Mundo Árabe de Johannes Gutemberg University in Mainz, apenas grupos de oposição armados poderiam se beneficiar com um ataque de armas químicas, pois se os EUA tentarem derrotar regime de Assad, os rebeldes ganham mais força.
Ademais, tem-se que o grupo mais significante no norte as Síria –área na qual ocorreu o recente atentado- é a Al Qaeda, que juntamente com outros hijadis extremistas, tornou-se a soberana em cidades como Idlib, por exemplo.
Por outro lado, vê-se que Assad não tem medido esforços- nem tão pouco crueldade- para se manter no poder. Logo, é minimamente lógico se perguntar por que Assad traria a opinião do mundo contra si mesmo, visto que, com a quebra dos acordos internacionais de não proliferação de armamentos nucleares, tal ato arbitrário erodiria a autoridade local que ele tenta a todo custo preservar.
         E se ao contrário de enviar o míssil precocemente, os EUA tivesse se debruçado mais algum tempo em pesquisas? Uma comprovação legítima dos perpetradores do ataque não seria o mais prudente? Fui atrás de saber se existiam centros de pesquisa pra isso e encontrei algo ainda mais intrigante: o próprio governo Sírio tem se mostrado reticente a permitir pesquisas, colocando algumas limitações sobre elas, pois segundo os correspondentes do governo, há muito viés nas pesquisas, tornando-as menos científicas e mais políticas.
         Em razão disso, surgiu em Liechtenstein uma salutar iniciativa chamada: ‘’International, Impartial and Independent Mechanism’’ (Internacional, Imparcial e Independente Mecanismo) a qual, como o nome já diz, busca realizar investigações independentes, deslocadas de governos centralizadores, que visa coletar informações palpáveis afim de formalizar, coletar e processar evidências de crimes de guerra de modo a corrigir os problemas da Síria minimizando o viés ideológico em em benefício de certos grupos de interesses que esses achados científicos possam apresentar. (3)
          Como foi dito no começo, esse texto não teve propósito algum além de deixar o leitor com uma pulguinha atrás da orelha sobre as ações da política externa dos EUA, mostrando que a história muitas vezes se repete, mesmo que com uma nova roupagem. Possivelmente, a Khan Sheikhoun dessa semana foi só um foreshadowing da Ghouta de 2013. Porém, dessa vez, há um agravante muito pior: os 59 mísseis já foram lançados. Resta a nós apenas esperarmos que as desmedidas intervenções americanas não culminem em mais imbróglios internacionais - a exemplo do Afeganistão, do Iraque e da formação do ISIS- os quais brotaram dessas intervenções.
         Enquanto isso, com ou sem míssil, a maior fatia de mortos da guerra da Síria continuam sendo crianças, mulheres e idosos e não soldados de guerra.

May ,then, humanity be at first, not [USA]america first.

(1) http://www.dw.com/en/us-launches-cruise-missile-strikes-on-syria/a-38332229
(2) http://www.dw.com/en/is-assad-to-blame-for-the-chemical-weapons-attack-in-syria/a-38330217
(3) http://www.dw.com/en/russia-and-syria-counter-claims-of-responsibility-for-gas-attack/a-38326368
(4) https://fee.org/articles/israel-europe-and-the-us-cannot-fix-syria/?utm_medium=push&utm_source=push_notification



COMO AJUDAR A SÍRIA: http://coolmompicks.com/blog/2017/04/06/how-to-help-syria-best-organizations/